Leandro Donizete vive de destruir e derrubar. É um operário do estrago, um obreiro do arrasamento. E nessa função rudimentar, ele é imenso. Faz daquelas chuteiras miúdas – não deve calçar nem 39 – pesadas marretas de demolição, que mal percebem a diferença entra uma bola e um tornozelo, entre o couro e a carne.
Pelo Coritiba, certa noite trocou dois dentes por um escanteio ou algo do gênero. Saiu de cancha sem os dois incisivos, com uma janela aberta na boca ensanguentada. Pois o cidadão passou água (ou suor, ninguém viu), lavou a cara e voltou à cancha para mais uns minutinhos de peleja até que o técnico, Dorival Junior, o sacasse em definitivo e o mandasse para um dentista ou qualquer outro gaiato que estancasse o sangue.
Pelo Galo, essa disposição toda rendeu ao camisa 8 uma veneração imensa e um apelido que o explica no miudinho: general. É isso, afinal de contas, o que ele é: um oficial de conflagração. Leandro Donizete, o bélico.
Esse jeito intempestivo, de quem ceifaria as duas perninhas da própria mãe caso ela atentasse contra o gol que ele defende, ganhou também o carinho do povo de Santa Lúcia, cidade onde o volante nasceu.
Lá, Leandro é o orgulho da terra. É o papo dos piás que jogam de pés descalços pelas campinas e ruas de terra batida. Lá, os feitos de Messi e Cristiano Ronaldo, não chegam. Ou, se chegam, não encantam nem assombram. Por ali, todo mundo quer ser Donizete. As camisetinhas dos meninos têm o 8 desenhado à caneta Bic e o nome do rapaz em mal traçadas letras imediatamente acima.
São 8.723 habitantes, e todos têm pelo jogador uma adoração imensa pronta a virar homenagem: nessas férias, a pequena cidade declarou que o campinho daquela terra se chamará, a partir de agora, Estádio Municipal Leandro Donizete.
Vejam, nem bem é um estádio – é um campo com uns alambrados ao redor e um naco de cimento em uma das retas para os velhos e velhas que se cansam de ver a peleja em pé –, e mesmo assim a atitude é imensa.O que importa aqui não é o calibre da quadra, mas o tamanho do gesto. E para Donizete e o povo de Santa Lúcia é como se ele tivesse batizado o Maracanã, o Pacaembu, o Minierão.
O General, agora, calhou de ser imortal. O tempo vai passar, ele vai largar as chuteiras, vai até descansar da vida e os seus descendentes estarão dizendo por todo canto que o pai, o vô, o bisavô é nome de estádio, foi gente importante, homem de estirpe.
Tudo passa, e Leandro Donizete fica. É assim em campo, é assim na vida.
O homem que vive de derrubar e desmantelar, vejam vocês, é um dos poucos jogadores que jamais vai ruir.
Foto de apoio: Divulgação / VR Esportes
Esse pereba não merece tamanha honraria. Se fosse assim, o que deveriam fazer para o Geromel? Construir uma Galáxia inteira? Seria pouco…
Esse honrou o manto do glorioso Clube Atlético Mineiro!
Infelizmente (ou não), o tempo passa, a vida segue…
Mas a histórias que o tempo não apaga, e até pelo contrário, acabam por dar um lustro, e a complementam com o fantástico e o sobrenatural. Fico imaginando lá em Santa Lúcia, nas peladas de infantes após as aulas (ou cabulando estas), se a conversa não passará pelo nome do herói local, onde dirão que superou Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar. E se não superou, foi porque não se confrontaram. Comentaram ainda que o próprio Jesus pediu para que fosse afastado dele aquele cálice, isso pouco antes de partir para outro reino (Inglaterra).
Salve o General Leandro Donizete!
Valeu General!
General Forte Vingador! !!!
Tchê comecei ler a página nessa crônica, já me encantei com o estilo, muito fera. Seguirei acompanhando no ano seguinte, primeiramente, as crônicas do Velho a la “chuteiras imortais”. Um Abrá.
Mas bah, cidadão. Fico honrado com a tua visita por aqui. Nunca deixe de comparecer ou comentar. Forte abraço,