Lá está o Atlético-PR quedado no chão, a boca espumando, o peito em espasmos, os punhos já quase sem vida.
Não são os dois a zero para o Coritiba – é a soma de todos os últimos Atletibas.
Qualquer um que tenha feito o nível introdutório do Kumon sabe calcular o desespero que paira sobre o gramado sintético do Joaquim Américo a esta altura da solenidade.
Vamos à frieza dos números.
Nos últimos 8 anos – ou dois mandatos integrais de um Presidente da República, que é como se mede tempo em dias de Lava Jato –, o rubro-negro venceu apenas duas vezes o Coritiba na Arena da Baixada. Mas acalmem-se porque a agonia é plena e o sofrimento é vasto: fica pior.
Nem estas duas míseras vitórias fizeram o Atlético-PR sair feliz da própria casa, posto que em uma delas o time terminou rebaixado para a Bezona e, na outra, viu o Coritiba sair enrolado na faixa de campeão paranaense, mesmo perdendo.
Agora, com o retrato da amargura pintado com tintas mais definidas, eu vos sugiro: indaguem as multidões e ouçam, com cuidado, cada resposta. Vocês verão que perder, por mais tétrico que seja, nem é o maior dos crimes. O problema, o povo dirá em cólera, é não jogar.
E é isso que o Atlético-PR tem feito em todo Atletiba.
Com a submissão de uma gueixa, o escrete do Água Verde entra em campo soluçando e cabisbaixo. Nestes últimos e tenebrosos invernos foi assim: os homens de vermelho e preto pareceram ter parido pequenos meninos no meio da pugna e os deixado ali, abandonados à própria sorte para brigar contra marmanjos. Eram soldados rasos que nunca encamparam uma arma, nunca se viram com as mãos cheias de sangue, guris magros e esguios a enfrentar homenzarrões de 5 côvados de altura.
Este último Atletiba, dado domingo no Joaquim Américo – antes fortaleza impenetrável do Atlético-PR –, foi a prova maior da desigualdade do clássico.
Vejam vocês que o Coritiba – que não tem mais do que um time mediano, é bom ressaltar –, mandou no jogo com a autoridade de mil Moros, como se conhecesse o gramado artificial desde 1909, e amassou os donos da casa para dentro do seu próprio campo, escolhendo o passo do tango e o ritmo do assobio.
O Furacão, por sua vez, manteve a quietude e a parcimônia que só se tem quem está na missa. Apanhou em silêncio, ofereceu a outra face, baixou a guarda, desviou o olhar e sucumbiu fazendo beiço e cara de choro. Foi ao chão triste e lamentável, como quem não guarda a própria honra.
E a cólera que faltava no onze rubro-negro sobrepujava nas arquibancadas, que se inflamavam violentamente, dizendo cânticos e fazendo preces, apontando o dedo em riste contra cada jogador e exigindo de volta a alma daquela camisa.
Foram 20 mil atleticanos em desespero, vendo o maior rival invadir e saquear a sua casa, caminhar descalço pela sua grama santa e fazer espólio dos seus bens.
E assim, a história do dérbi anda se enfraquecendo sobremaneira. E não porque um único lado vence, mas porque um único lado joga. O outro, pura melancolia, passeia pelo bosque da aflição, se esconde da luta e naufraga no próprio temor.
Que o Atlético-PR desperte num só salto desse preguiça domingueira e lance mão de espadas e outras armas e finque os pés na sua cidadela e levante mil bandeiras e se ponha em pé para o próximo Atletiba – o povo quer de volta o maior clássico do Paraná.
LEIA A COLUNA DE ESTREIA DO VELHO NA GAZETA DO POVO: ATLETIBA, A LITURGIA DO POVO
As fotos são do sempre atento Geraldo Bubiniak, do futebolparanaense.net.
Querido Velho:
Qualquer semelhança com o que vem acontecendo nos jogos entre o Vasco e o meu Flamengo será mera coincidência?
Grande texto (mais um), parabéns e um abração.
Grande Murtinho. Estão assim as coisas pelo Rio também, é? Nada que o tempo não apague, para o bem ou para o mal. Grande abraço e obrigadaço pela leitura.