Com o tempo, Paulo Marcos de Jesus Ribeiro virou Paulão.
E no Futebol, a gente sabe, ninguém ganha uma alcunha dessas, no aumentativo, se não for grande ou grosso. Paulão é as duas coisas.
Uma das canelas mais espessas a rodar pelos gramados tupiniquins, beque de dureza quase cadavérica, ceifador contumaz de pernas inimigas.
Ora, ontem, o Futebol – o sarcástico e risonho Futebol – pintou com alguma ironia uma tela fabulosa no Beira-Rio.
Aos 33 minutos do segundo tempo, quando o Internacional sufocava em casa com um empate contra o Goiás, D’Alessandro cobrou escanteio, a bola desviou e caiu atrás do zagueiro colorado, que se virou, pulou como se fosse leve e lançou uma colossal bicicleta, imaculada como a primeira de Leônidas, fazendo o couro estourar com volúpia contra toda e cada costura das redes de Renan e disparando o gatilho da emoção por todo o Beira-Rio.
Um tento fabuloso, que garantiu a vitória do Internacional, confirmou mais um pernoite no suave terreno que leva à Libertadores da América e, mais do que tudo, um gol que vai ficar guardado nas gavetas bem forradas da memória colorada por todo o tempo.
A bicicleta de ontem já entra para a galeria dos momentos estupendos da bola, posto que foi um encontro burlesco entre o golpe mais aristocrático que há por estas bandas e o par de pernas mais bronco que colecionamos por aqui.
Por um segundo, o Futebol foi a aspereza de um Anton Chigurh com a graciosidade ímpar de um Chaplin.
Foto: Andre Vara
Na declaração, Paulão disse o seguinte: “a gente treinamos nos treino isso”. Um elegante na grossura quase ingênua dos brutamontes.
Pois a declaração já entra para o rol restrito das fábulas contadas à boca do microfone esportivo. Coisa linda.